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sexta-feira, 9 de abril de 2010

FanFic - Eternidade Obscurecida 3º Capitulo


A dor assolou-me de uma forma estranha. O corpo todo doía-me e partes de mim desejavam voltar a dormir para a dor acalmar. Ou então morrer. Abri os olhos de repente e reparei que estava num sítio desconhecido. Era de noite e sentia um cheiro a carne podre. Sentei-me no bloco de pedra fria onde estava deitada á pouco e depois vacilei ao ver aquilo que se encontrava ao meu redor, a origem do cheiro. Á minha volta, como súbditos obedientes e que nada podiam dizer, estavam os meus amigos, os amigos que vieram naquela noite á expedição até á casa assombrada. Jaziam mortos a olhar para mim com os olhos abertos e a boca aberta, totalmente quietos e brancos e em diferentes cantos da sala em ruínas. O espaço ao meu redor era surreal, mas ao mesmo tempo achei-o espantoso. Tinha uma janela sem vidro, onde podia ver a lua, porém não havia lua no céu, e portanto nada para ver. Olhei para os moribundos á espera que a dor voltasse a afundar-me quando fizesse a triste revelação, e encontrei-o. Como todos os outros estava quieto e imóvel, sem pinga de sangue no corpo. Dirigi-me a ele e pela primeira vez reparei em mim mesma. Não estava com as mesmas roupas de quando saí de casa naquela noite, agora envergava um vestido preto justo de malha que me caía perfeitamente. Inclinei-me para Stephen que me olhava com ar vazio, e não senti o que esperava sentir – medo, dor, angustia, aflição, e por aí. Senti-me algo frustrada. Como quando vamos aos saldos, vimos um top lindo e não têm o nosso tamanho, sentimos frustração porque queríamos mesmo o top, e eu senti frustração por Stephen. Fiquei horrorizada comigo mesma.
-Quem sou eu? O que me está a acontecer? – Balbuciava eu enquanto soluçava sem chorar. – O que lhes aconteceu? – Apontei para os corpos gelados e quietos afirmando no vazio, ou assim julgava eu.
-Isto Kate, chama-se sobrevivência. – Apontou para os corpos – fiquei com sede depois de te morder. – Já os devia ter queimado mas queria que visses o que lhes aconteceu. A verdade nunca esconde mentira, queria que visses que os teus amigos estão mortos! – Murmurava perigosamente. – E queria que visses e soubesses que a partir de hoje poderias ter sido tu própria a matá-los. – A voz dele já não me parecia tão anormal de quando eu era humana, sim porque eu agora já não era humana, era uma anormal, um monstro.
Fitei-o estupefacta, ele estava a martirizar-me e pensei que na cabeça dele aquilo podia ser uma espécie de educação, ou se calhar não era só na cabeça dele e era mesmo educação porém eu sentia-me péssima. Uma dor alucinante e perturbante irrompeu do meu peito, do meu coração inerte.
-Ai – Disse massajando a zona.
-Hum…o teu espírito está a pedir-te alimento. – Murmurou.
-Alimento? – Murmurei.
Ele aproximou-se de mim e vi que era bastante alto, mais que eu e curvava gentilmente a cabeça para baixo.
-Sim – murmurou e quase me pareceu que se estava a conter para algo. – Tens de ir caçar. A tua primeira caça como vampira tem que ser caça animal, é uma oferenda á nossa deusa que é a deusa da caça. – Parou fitando-me. – Mordes o animal e enquanto o veneno espalha tens que te conter o suficiente para lhe não beber o sangue, o animal tem que ser entregue á deusa com o sangue envolto com o teu veneno. Segundo as lendas e mitos, a deusa vai testar o teu veneno e em seguida atribui-te um poder conforme o teu…espírito. Em seguida levo-te a caçar, caça a sério com uns gritos pelo meio.
Não senti um arrepio que devia ter sentido. Não consegui parar e quando dei por mim estava a sorrir-lhe maleficamente em tom de concordância. Esperei o arrepio de medo que devia vir mas ele não veio.
-Esse vestido fica-te lindo. – Admirou. – Sou o Toby. Isto agora pode parecer-te um pouco confuso mas, eu transformei-te em vampira porque…como é que eu te vou explicar isto? Ah…tivemos uma espécie de química. Eu, acho que és a minha alma gémea, por isso transformei-te. Pode acontecer eu não ser a tua alma gémea mas acho que tivemos química. Não sei. – E sorriu como um adolescente tonto. Tão lindo, tão maravilhoso que a única coisa que fui capaz de dizer foi:
-Vamos, vamos embora caçar e depois embora para sempre. Nunca mais quero cá voltar e…quero apenas… - parei suavemente e continuei – Quero beber sangue, urgentemente. Sinto-me mal muito mal mesmo, sinto-me quase pedrada.
Ele riu-se. Tinha um sorriso tão lindo e tão doce, tão mágico que me fez sentir feliz apenas.
-È normal, é o efeito do meu veneno. – Sorriu com paciência.
-Pois, não devia ser para admirar.
-O quê? – Perguntou com curiosidade na voz.
-Que o teu veneno me fizesse sentir tão mal, já tu fazes-me sentir mal ou melhor bem, bem demais esquisita. O teu veneno é bastante maroto! – Disse eu vendo-lhe os olhos brilhar.
-Pois, já me tinham dito que era maroto e outras coisas piores – Sorriu-me travesso – Nunca me tinham dito que o meu veneno era maroto!
-Sai ao dono então. – Acrescentei eu – Vamos?
-Claro Kate, quando quiseres e te sentires bem.
Sorri suavemente e ele já ia á frente quando lhe agarrei na mão. Ele voltou-se surpreendido e eu apenas lhe sorri, vendo-lhe um enorme sorriso surgir no rosto. Eu sabia que o que me estava a acontecer era no mínimo macabro, porém também sabia que ainda não entrara em pânico possivelmente por causa do veneno que neste caso tinha um efeito semelhante ao da droga que me fazia estar num mundo paralelo e deixar algumas coisas para trás. O que deixei para trás foi também os corpos dos meus amigos. Tentei imaginá-los ali, trancados naquela assustadora casa enquanto eu provavelmente berrava no quarto de cima com dores. E depois Toby surgir á frente dele e decapitá-los, espalhando-os em volta de mim enquanto eles davam as últimas. Afastei esse pensamento e concentrei-me na mão que segurava á minha e tentei segurá-la ali para sempre. A minha vida, o meu passado agora ali presente na minha noite eterna.

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